terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Transe em Chico



Podem me chamar de conservadora, nostálgica ou desatenta às novas criações musicais. Mas eu não consigo parar de ouvir Chico. De novo. O pior, ou melhor, é que descobri umas praticamente inéditas para mim, quer dizer, já tinha escutado, mas nunca ouvido de verdade. Algumas bossas muito gostosas como “Lígia” (uma ironia bem melancólica), “Januária”, (uma delícia de cantar), “Desencontro” (doííída...mas não choro), “Pois é” (essa eu acho que ele fez juntamente com o Tom). “Romance”, que é muito linda...

Apesar do orgasmo musical que “Construção” traz naquele arranjo que começa lento e fica cheio de pressa no final, algo simplesmente incomparável, tem dias que estou mais pra bossa mesmo, querendo uma emoção mais contida. Emoção mais romântica também. Porque “Construção” é toda a raiva desse mundo se exalando, parece que a música tem até um odor sufocante e uma imagem turva. Bossa é para aquelas manhãs em que o dia não quer acordar e que nada pede atitudes bruscas ou revolta, mas simplesmente uma tristeza orgulhosa.

Tem música do Chico pra quase todos os sentimentos que me aparecem. Aquela do “sonho medonho”, nem sei o nome dela, é pura vingança. Não precisa chegar a se vingar de fato, é só ouvir a música e cantar bem alto. Pra todas as minhas lembranças tem um Chico Buarque pra ser tema de fundo, pra contar exatamente o que se passou. E é mesmo melhor sofrer “em dó menor” como ele diz. Até os infiéis podem se redimir ao ouvirem que “mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons”. As canções são bonitas, não importa.

Esse velho Chico tem tanta música de sublimação que não dá pra enumerar. “Roda-viva” figura muito bem aqueles momentos em que simplesmente nos sentimos impotentes e limitados com o correr das coisas que, já dizia outro poeta, “embrulha tudo” pedindo coragem. “Rosa-dos-Ventos” é de chorar, é a música da revolução acontecendo. Vejo até a multidão furiosa inundando tudo. Não pode haver nada mais lindo. As românticas já não posso mais ouvir, estão como um disco riscado e é melhor dar um tempo. Mas eu não poderia deixar de mencionar “O que será”. Que será? E “Cecília’. Na sua presença, palavras são brutas...

Chico pra mim não tem nada a ver com o que chamam de “Cult” (alguns) ou utrapassado (outros) ou fase (outros outros). Simplesmente povoa muito a minha vida, assim como tanta coisa musical boa que também existe por aí.

Música pra mim é transe, tem que torcer a alma. Por isso pouca coisa me irrita tanto quanto interromper um orgasmo musical meu, ainda que silencioso, abaixando ou desligando o som. Seja Chico ou outro entorpecente.

2 comentários:

  1. Músicas que conseguem nos emocionar ou nos traduzir são tuuuuudo de bom!! Falando nisso sinto falta de conhecer novas bandas ou cantores que me apaixonem... Tem alguma sugestão? Beijos!

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  2. Você é rápida hein? hehhehhe! Também quero conhecer coisas novas! Mas tem um cd do Lenine que se chama "Cité". Tem umas músicas mais lentinhas, as letras muito bonitas. Não é exatamente recente, mas pra mim ainda é novo. Também quero sugestões! beijos!

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