sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Tatiana: o amor majestoso


Ela nasceu, digamos assim, como uma revolução. Porque embora tenha sido planejada, gestou-se de um caos para formar-se em maravilha. Mas é revolucionária que nasce a Natureza em sua completude: toda razão e lógica explode em fantásticas reviravoltas de emoção. Só assim transfigura-se deslumbrante em cores, formas e sentimentos indescritivelmente belos. É nesse todo de reviravoltas que ela é profunda e abraça o universo como a mais caridosa mãe. Tentar entendê-la capturando um momento ou uma parte é perder sua grandeza, ou seja, é perder sua essência: a capacidade de se refazer refazendo a todos para si e em si. Natureza que é, ela é majestosa. Cheia de segredos. Centelha que chora em rios, mas renasce em sol. Tormenta que se revira, mas retorna-se em raiz maternal que protege todos os galhos e folhas das tempestades. Como revolução que nasceu,  revolução é.

A frondosa Natureza é ela toda uma mulher.Tatiana fez-se da relação de amor entre a mata amazônica e guerrilheiros por um mundo mais justo e bonito. Como fruto-Natureza, fez filha ao mesmo tempo em que fez-se mãe do mundo inteiro, herdando assim a revolução de sua raiz: ser ao mesmo tempo o princípio e o futuro, a semente e a sombra, água e luz que alimenta. Ainda bebê ela fora a nutrição para os seus pais em amor e reconhecimento de humanidade. Ainda adolescente ela fora a segunda mãe de suas irmãs cuidando da segurança, carinho e educação. 

A sua essência de um todo-mãe reviravolto é a própria Natureza: não se sabe com razão, mas se faz por emoção. É por tormentas que ela segue seu fluxo de querer cuidar dos frágeis seres humanos como se fossem seus próprios filhos. É por tormentas que ela segue seu fluxo de não conseguir deixar de sentir na pele o que o outro sente. Afinal, a frondosa Natureza também quer ser filha e é nesse todo que está sua alegria e dor. E ela faz maravilhas ainda que passando pelas angústias do parto. Majestosa e misteriosa como natureza-mata-amazônica também é toda sol, linda, radiante e estonteante após as tempestades. Não poderia deixar de ser esse misto porque é grande como a própria Natureza, traz a dialética do rio revolto que tudo arrasta e do caos que pare uma estrela dançarina. E de um doce cativante a qualquer um que permite-se conhecê-la e simplesmente deixar-se ser por ela. Casa-se Plínio, faz João e Nina, e ainda permanece um oceano de tesouros raros.

Ela retraduz com a altivez a grande mãe e o grande pai - guerrilheira por humanidades. Ela retraduz com feminilidade a grande Natureza: não se trata de entender razões e sim de gerar amor para além de qualquer lógica. E é esse amor que abraça. Amor que cura. Amor que une. Amor que nos sustenta sem saber-se esteio. Sem saber-se grande como é. Tal como a própria grande natureza não se sabe, Tatiana também nem imagina tamanho ar, água e nutrição é de tantos. Quem dirá o meu... Hoje, no dia do seu aniversário, insuficientes são as palavras para dizer-lhe: te amo, te amo, te amo.




sábado, 7 de dezembro de 2013

Suposições sobre mim

 (Da série: divagações de adolescência em baú -2005 - e que jamais se queriam publicados no momento em que foram escritos. Inspirado em algum texto, não me lembro qual.)

 * Tenho espírito livre

Quase não caibo em mim
Sou bicho de 7 cabeças
Todo tempo é pouco

* De uma vez só

Algum trocado pra dar garantia
Algum veneno antimonotonia
Brincar como criança e amar como uma dança

* Amo os loucos não declarados

Desconfio dos que se dizem pirados
Desejo amor ao ser e não ao ter
Desejo para todos trabalho em tempo curto e diversão na maior parte do dia

* Venero o tempo.

Há que se ter tempo para exercer a liberdade
Há que se ter justiça para se ter tempo
Há que se ter espelho para exercer a justiça
Há que se ter coragem para não olhar de cima pra baixo ou de baixo pra cima

* Estereótipos não me atraem

* Ironias não me convencem

* Liberdade é amor ao humano

Odeio a liberdade privada
Odeio a paz que é medo
Odeio o autoritarismo travestido de liberdade

* Quero criar

Sentar na grama e mexer com tinta
Voar com o outro
Ser (não)inteira como uma música





O espaço entre-bolhas

(Texto do baú de 2005, para o projeto "Bolhas", revista eletrônica).         

As bolhas, apesar de serem transparentes, trazem um sistema muito complexo de coisas trançadas, embaralhadas, as quais formam um todo com alguma uniformidade. Uma bolha não tem nada de vazio. Na verdade, bolha é exatamente o oposto do que podemos conceber como vazio. Quando conseguimos gritar em nossos corações uma palavra de ordem que defina nosso ânimo ou até mesmo quando conseguimos dizer para alguém uma opinião que temos com muita convicção, estamos fazendo árvore. Quer dizer, antes deste processo muitos detalhes se multiplicaram e se envolveram um no outro. Embora na maioria das vezes seja difícil ou simplesmente não aconteça de compreendermos todo o entrelaçamento, não há dúvidas de que ele existe e começou pequeno. Ou de algum nada. A prova disso é justamente a nossa certeza, quer dizer, a nossa condição de encontrar uma palavra, e até mesmo de formar uma frase, que faça um sentido muito lógico, ao menos para nós.
Fiquei pensando durante muitos dias sobre algo a dizer que não fosse falar sobre o clima, os afazeres diários, as surpresas da rotina. Algo assim como um todo, um sentimento, uma verdade. Algo que se pudesse escrever em um cartaz, em um outdoor, quer dizer, algo que fizesse sentido ou importância suficiente pra dar vontade de dizer para outros. Outros não apenas fora de mim, mas completamente distantes de qualquer idéia daquilo que sou. E não encontrei nada. Mas como explicar que nada é mesmo nada, que simplesmente não havia sentido em qualquer palavra ou frase, se nem mesmo acho possível um nada no sentido mais puro? Acho que a melhor explicação é dizer isto: quando digo nada não quero dizer sem sentido, mas sim sem um importante sentido para uma bolha qualquer. Importante é um sentido que para os outros também é interessante e compreensível, que possui um todo. Não tenho pretensão de que alguém aceite ou mesmo compreenda quando eu digo que não encontrava nada com sentido importante e por isso considerei simplesmente isso ser um nada. Eu sei que isso aconteceu num momento e foi completamente diferente de tudo o que eu já havia passado nas minhas experiências pessoais. Senti-me des-pertencida a qualquer bolha. Não pedi “socorro”, mas acho que teve tudo a ver com aquela música do Arnaldo Antunes em que ele diz que não está sentindo nada.
Percorreu-me o pensamento de que talvez fossem todas as bolhas vividas anteriormente que tivessem algo de muito religiosas e que, de repente, fosse simplesmente isso: eu havia entrado numa bolha em que não há fé cega e nem grito. Mas isso foi assustador demais pra mim e escapou a qualquer idéia que eu tinha de bolha. Não posso concordar que exista uma bolha assim, sem fé em coisa alguma e que não queira nem mesmo querer. Porque penso que uma bolha tem sempre uma força que a rege como princípio, mesmo que este princípio não seja compreendido.
Escrevo agora porque este momento passou. E acho que, agora, conseguindo escrever e concatenar coisas com algum sentido mais unificado, penso que as bolhas não são grudadas. Bolhas devem ser mesmo como aquelas de sabão que sopramos no ar. E podem até se grudar às vezes. Adentrarem-se umas nas outras. Mas não é regra que elas sejam grudadas. As bolhas flutuam em algum espaço que é não-bolha. Ainda que elas fossem grudadas, se forem mesmo redondas (e acho que são mesmo redondas, pois assim se movimentam e fluem com mais facilidade, e é assim que as bolhas da vida funcionam) temos que considerar um espaço entre as bolhas que não é bolha alguma. Este espaço não-bolha possui coisas soltas, não sistematizadas. Coisas que fazem sentido apenas quase encerradas em si mesmas e por isso não se declaram como um sentido, como uma bolha. Não conseguem de fato se conformarem num sentido maior. É como aquelas respostas pra perguntas que não respondem às perguntas, mesmo que usem as mesmas palavras também presentes na pergunta referente.

O espaço entre-bolhas, ou espaço não-bolhas, é apático. Nada solicita e não assume qualquer não solicitação. Chega a ser quase um recalque, mas não o é, pois isso seria excede-lo, que dizer, isso já seria “bolha” demais para ele. É simplesmente um entre-bolhas, lugar onde não é nada confortável de se estar.                                                                                                                                                                                                                   

A dança do Bosque Auguste de Saint Hilaire

(Artigo experimental para o Jornal Samambaia - UFG, 2005)        

  Em maio a barriguda tem flor. E suas folhas vão caindo. Quando for tempo dos frutos amadurecerem, ela já deve estar totalmente desfolhada. Enquanto isso outras árvores nos fazem sombra com suas copas verdinhas e cheias.  No Bosque-Saint Hilaire do Campus Samambaia a dança é assim: cheias e despidas, verdes e coloridas, folhas caindo em algum lugar. Folha, desfolha, desfolha, folha: “nunca a queda das folhas é uniforme” – afirma o Professor Doutor José Ângelo Rizzo. Ele explica: “é uma cobertura característica da região centro-oeste e chama-se Floresta Semidecídua Estacional”.
O Bosque Saint-Hilaire resultou de uma fragmentação ocorrida há muitos anos em uma região de área verde maior, resultado da urbanização. É um fragmento com aproximadamente 20 hectares, uma das poucas áreas com vegetação primitiva no município de Goiânia. Seu nome homenageia o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que esteve em Goiás no início do século XIX e atuou em benefício da conservação dos recursos naturais desta região. O bosque possui permanente política de preservação desde a década de 60 e hoje está totalmente integrado, não degradado. Esses são dados da Unidade de Conservação da Universidade Federal de Goiás, dirigida pelo Professor Rizzo. As trilhas ecológicas, as mesinhas e bancos instalados, as placas que trazem o nome científico de várias plantas são mecanismos administrados pela Unidade para permitir uma interação saudável com a natureza: “sem prejudicar a estrutura da mata, que deve se manter em processo de recomposição normal”.
A proteção de tela que envolve o bosque não impede a circulação das pessoas dentro dele. Árvores, estudantes, professores, macacos e outros bichos convivem em harmonia. Os macacos, que se mantiveram nesse fragmento verde, pulam de galhos, carregam filhotes nas costas, atravessam os caminhos. E quem passa sempre pelo bosque aprende a lidar com eles. Seja dividindo ou escondendo o lanche.  “Uma vez um deles roubou uns biscoitos de peta que eu estava trazendo da FAV”  afirma a estudante de jornalismo Lian Tai.  “Já vi eles várias vezes revirando o lixo, até refrigerante eles tomam”, conta o ex-estudante de filosofia Relton Júnior. Mas bolachas e refrigerantes não são aconselháveis para a dieta destes diferentes primatas. De acordo com o Professor Rizzo existe a idéia de se fazer um projeto que pesquise a situação da população dos macacos no local para a elaboração de políticas de controle: “sem um predador a população pode crescer muito e não ter condições de se alimentar”, afirma. Para a Unidade, só depois desse estudo será possível resolver a insuficiência de alimentação na flora, possivelmente através de um plantio de árvores frutíferas. Isto sinaliza que as latas de lixo seletivo, que de acordo com Rizzo foram instaladas para iniciar um aprimoramento da coleta seletiva, continuarão por algum tempo sendo reviradas pelos macaquinhos, assim como as latas comuns distribuídas pela UFG.
Pesquisas como a de levantamento da população dos macacos precisam ter a autorização da Unidade de Conservação para serem realizados. A coleta de aves para o “Estudo Integrado para o Conhecimento da Ornitofauna do Estado de Goiás”, por exemplo,  só pôde ser feita no Bosque Saint-Hilaire após aprovação da direção da Unidade. Assim como o projeto “A escola vai ao bosque”, que permite que as escolas da rede municipal e estadual tragam estudantes para aulas de educação ambiental na mata.
A conservação do Bosque Auguste de Saint-Hilaire objetiva a preservação da vegetação primitiva de uma floresta semidecídua estacional, que é típica da nossa região. Além disso proporciona, é claro, que os bichos cruzem nossas trilhas e que a dança continue. Pois depois das Paineiras, tem a floração dos ipês amarelos, roxos, brancos...


Inconstâncias de ontem

(Da série: divagações de adolescência em baú - 2005 - e que jamais se queriam publicados no momento em que foram escritos)

         Vou fazer uma linha de fios de cabelos bem selecionados, pegar uma agulha que caiba na cabeça todos os desejos e irei tecer as mais belas vestimentas para todos os meus dias! Quebrarei o inconsciente em pequenos pedaços e os farei virarem argila, a minha matéria prima para todas as máscaras que ficarão guardadas atrás do meu espelho e que saltarão sobre mim nas manhãs finitas, mesmas.
Somos múltiplos em nós. Não se pode dizer “sou” em uma só pessoa. É claro que temos cada um gostos e valores próprios, mas nada é tão constante. Somos surreais demais para dizer. Tenho minhas dúvidas se ainda podemos dizer sobre existência de essência. Aqueles que conhecem alguém podem até dizer: é essencialmente alguém bom, com opiniões assim, de tal caráter, etc. Mas isso não deixa de ser o que esse alguém demonstra, aparenta. Ninguém pode conhecer dentro de si ou dentro dos outros um centro imutável.Somos tudo e nada, todos e ninguém, com tendências a escolhas e mínimas compreensões.
Eu entendo quando Clarice Lispector diz que cada dia é um dia roubado da morte. E que não se deve procurar entender demais, pois viver ultrapassa todo entendimento. Não se trata de parar de procurar respostas. Mesmo que elas não existam, a busca torna o caminho mais interessante de ser percorrido, pois ele é pensado de formas redondas, quadradas, triangulares, tridimensionais... E viver é fazer sentido. É por isso que a arte sempre nos salva de todas as perdas. O que é esmagado pela civilização ainda pode sair dos fundos de alguma maneira e se exteriorizar nela. E isso constrói uma comunicação até com aqueles que não sabem dizer o que é ou que simplesmente se negam a assumir que existe. Pensamentos presos e escondidos, perguntas e reflexões que se fazem talvez mais em cores e sons do que em palavras dentro das cabeças! As concepções sempre podem girar dentro, mesmo que em movimentos invisíveis.
            Encontrar uma definição para mim e meus sentimentos: esta é a busca mais difícil. Já não se pode mais confiar em causas definidas. Talvez seja simplesmente uma dor de cabeça que eu não sinto, mas que me traz temor e tristeza. Talvez jamais poderei saber exatamente o motivo de minhas insatisfações, tensões, um mal estar... Devo fazer o exercício de falar, falar e falar como receita a psicanálise no caso de “sintomas” de um inconsciente que não se deixa conhecer? Será que o que chamam de essência não seria o inconsciente? Mas... sou uma construção inacabada de material desconhecido e todos os dias preciso tirar do espelho o “ser”. Meu ser. O que sou vem de onde? É uma verdade ou uma escolha ? Como se no menu do dia meu lado escuro e misterioso escolhesse um sentido e me obrigasse a consumi-lo por longas horas. Se vejo as coisas de uma maneira inconstante, não é minha culpa. Pelo contrário, sou uma vítima do que teço e desconheço: eu. Agora estou grudada em um dia novo cheio de dúvidas. O que virá amanhã?
            Ter certezas sobre mim? Impossível. E pra que? Às vezes me exalto querendo ter certezas sobre o outro. Um risco mais enorme ainda. Somos cada um as prolongações de nossas bagagens imanentes e esquecidas e ainda trazemos uma enciclopédia de signos distintos. Nossas escolhas se misturam com a dos outros. Sinta o sabor disso, isso é o mais gostoso, veja essa cor, sinta esse cheiro... Me disseram que o mais gostoso era diferente.  Talvez isso nos resolva, talvez nos detone, talvez misturemos todas as escolhas... A cada momento tecemos vestimentas diferentes. Minha mistura, a mistura do outro... E sigo. Vou tecer sempre outras inconstâncias. Minha mais bela vestimenta deve vir cheia de paixão. Às vezes parece que o que eu mais desejo é acabar com o mistério.  Mas acho que não acredito em revelação. Quero apenas transgredir.


domingo, 11 de agosto de 2013

Meu pai: gauche na vida

O meu pai é daqueles que recebeu o anjo torto de Drummond e foi ser gauche na vida. Por trazer uma voz inconformada por dentro, muito cedo partiu pra luta por um mundo melhor. Ele estava na Amazônia numa base de guerrilha contra a ditadura militar quando minha irmã Tati nasceu. Quando veio minha irmã Maíra, ele estava comemorando a Anistia. E, quando eu vim, refundando o Partido Comunista do Brasil. 

A sua voz inconformada buscava se elaborar na militância e nos livros. Na música clássica e na MPB. Eu cresci ouvindo os lindos discos que ele colocava na vitrola, com a imagem dele à volta com pilhas de livros e ouvindo o discurso sobre como não ter uma vida mesquinha e egoísta. Mais do que ouvindo esse discurso,vendo o seu exemplo. Ele sempre estava disposto a ir pegar as estrelas do céu não só para nós, suas filhas, mas para todos os que precisassem. Disposto a sair de madrugada para nos buscar nas festinhas adolescentes com direito a declamação de poesias inteiras no caminho da volta. Sua voz inconformada nunca conseguia se conter em nos instigar a pensar, a pensar e a pensar. E foi  nos ensinando a pensar que ele corrigiu nossos erros sem nunca nos levantar a mão. 

Foi em diálogos ricos que ele nos mostrou a naturalidade no contato com a sexualidade na adolescência. A importância de saber compartilhar com as irmãs o quarto, os objetos pessoais, o sentimentos. A importância de buscar um mundo em que o viver compartilhado se sobreponha à violência do eu individual sem limites. Meu pai nos fez saber que a vida de engajamento comunitário, político, é a mais plena de humanidade Nos fez saber o princípio socrático de que uma vida sem exame não merece ser vivida, o princípio timbira. de que a vida é luta e o princípio marxista de que o fim supremo desta luta não é meramente pessoal, mas sim realizar um humanismo real na sociedadeE assim ele nos fez herdar a sua voz inconformada.

Em mim essa voz se fez mais forte pela imagem das pilhas de livros e pela sua citação do poema de Castro Alves que sempre vinha nas dedicatórias dos livros que me dava:

Filhos do século das luzes! 
Filhos da Grande nação! 
Quando ante Deus vos mostrardes, 
Tereis um livro na mão: 
O livro — esse audaz guerreiro 
Que conquista o mundo inteiro 
Sem nunca ter Waterloo... 
Eólo de pensamentos, 
Que abrira a gruta dos ventos 
Donde a Igualdade vooul..

(...)
Oh! Bendito o que semeia 
Livros... livros à mão cheia... 
E manda o povo pensar! 
O livro caindo n'alma 
É germe — que faz a palma, 
É chuva — que faz o mar.


O meu pai gauche na vida é o meu mestre de amar: amar o comum-viver e amar o saber. Hoje, já na minha vida adulta, é o meu precioso amigo em longas conversas não só de inconformidade, mas também de encantamento.

Obrigada por tudo isso, pai!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Maíra: o amor que canta

O Amor andava por aí sorrindo crianças e montando melodias. Até que um dia pensou: quero me fazer em corpo de mulher. E assim foi. A bebê nasceu cheia de cabelos e pressa para falar. No terceiro dia já queria esboçar alguma coisa. Mas, pelo tamanho dos olhos, todos também perceberam: ela também tinha pressa para enxergar. De tanta intensidade desse Amor em corpo, o mundo cresceu rápido e a atingiu em cheio. Pois ela era só amor. E o mundo... tinha muito mais do que isso.

A amor-menina quis aproveitar as mais fortes emoções no ser criança: levar o balanço para o mais alto dos céus, falar pelos cotovelos, fazer rir com palhaçadas e histórias de fantasia também os adultos. E essa amor-menina, menina-amor, não parava mais de ter pressa: queria também as fortes emoções de ser logo mulher. Calçava os sapatos largos e pisava nos vestidos compridos passando o dia a ouvir músicas românticas e a chorar como quem já viveu e já se perdeu. “Mamãe, vem ouvir música que chora”, chamava a criança. 

Por algum motivo ela deu pra ouvir música sem parar. Dia, tarde e noite revezava os discos vinil de seus pais entre Beethoven, Chico, Elis, Bethânia, Gal... E a tal música que chora tocada nas rádios populares. Mal completava 6 anos e já deu de ser cantora adulta. As pessoas boquiabertas com o seu vozerão não entendiam como podia ser: era voz e letra de gente grande. Não sabiam, afinal, que era a imensidão do Amor que estava a atropelar a menina por dentro e a sair sem pedir muita licença àquele corpo de criança. Não sabiam que o que se expressava em pressa era simplesmente o Amor que vem como o mar: em ondas intensas e avassaladoras.  

É por esse mar que, mal se fez adolescente, a menina já queria uma paixão de casal e mal se fez adulta já queria uma paixão de filho. E fez logo três crianças lindas. Pedaços dela que são, também estão cheias de sentimento e de pressa.  Hoje ela já é mesmo uma mulher por inteiro. E, por saber hoje que sua pressa é mar, realiza sua natureza-princípio: passar os dias por aí a sorrir crianças e montar melodias. Passar os dias a encher de beleza esse mundo. Pois, se soube muito cedo que ele não é mesmo só Amor, teve também muito cedo a certeza de quanto o mundo precisa dela, puro Amor que ela é. 

Quem a conhece sabe que essa é a verdadeira história da Maíra, que hoje completa 33 anos. Quem a conhece faz hoje festa no coração. Maíra, nós também somos só Amor para você!


....
....
....

"Hj é aniversario do meu da minha irmã querida, mãe linda, mulher forte e que eu não sei viver sem estar grudada. Uma vez ela me disse "que não sabia onde terminava ela e começava eu" e é exatamente assim. Sempre fizemos tudo na vida juntas. Querida Maíra, feliz aniversário. Só quero pra sempre te ver feliz. Te amo   Tati."




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ele. Simplesmente, ele.

Ele é aquele que... foi chegando sorrateiro e se instalou feito um posseiro dentro do meu coração... Que nem naquela música do Chico. A gente não tinha muito o que dizer quando se encantou. Eu, com minhas mil palavras sobre política, não conseguia expressar nada do que queria. Só mesmo num abraço longo e demorado acabei me denunciando. Não porque planejei, mas porque não tinha outro jeito. Quando a gente se sentou perto um do outro, eu já sabia. Eu, que não sou nada espiritualista ou mística, simplesmente aceitei que esse amor me chegou como certeza em forma de energia. Eu simplesmente sabia. E isso me pareceu um pouco assustador... Era ele! Era ele e pronto. E mais nada. “E desde então sou e somos... E por amor Serei... Serás...Seremos...”. Que nem naquele poema do Neruda.

Eu poderia dizer que é porque sou completamente louca pelo contraste da sua pela alva com seus fartos cabelos pretos. Ou porque a transparência do mel do seu olhar é de um doce que me preenche de paz. Ou porque seu perfume natural é o mais envolvente do mundo. Ou porque ele é de uma beleza, inteligência e gentileza que, justamente por não se saberem como tais, são da maior beleza, inteligência e gentileza que existem. Como eu não poderia me apaixonar pelo verdadeiro sábio, aquele que tanto sabe do não saber? Talvez me apaixonei porque ele é aquele que não há quem não se encante. Que tem como sagrado, religioso, o respeito à diferença do outro. Que traz o companheirismo de um modo intenso. Que traz a entrega como regra. A capacidade de se jogar por inteiro em tudo aquilo que faz. O carinho que transforma tudo aquilo que toca em algo melhor. Eu poderia ama-lo por tudo isso... E mais...

Mas não. Eu o amo antes de tudo. Eu o amo num justo SIMPLESMENTE. E esse tudo o mais... Esse tudo o mais é o que vem depois e crescendo a cada dia. É o que faz de mim inacreditavelmente mais apaixonada a cada manhã. Se é raro o amor, mais raro ainda é esse tamanho orgulho do amor que se tem. Por alguma razão o Universo achou por bem me presentear com esse amor que não cansa de crescer e de se orgulhar. Eu tenho a sorte de ser aquela que se pega perguntando como é possível acordar todos os dias num sonho. Caminhar com esse sonho de mãos dadas. Rir, passear, cair e levantar com esse sonho. Os anos passam e de repente começo a ter certeza de que é esse sonho é real, não vou acordar. É a realidade. É possível a realidade ser sonho. Ele é esse sonho possível. É possível um ser humano tão lindo se mostrar ainda mais lindo em cada pequeno detalhe. E, o melhor, sem perceber. É  possível se achar infinitamente feliz e ainda assim poder ser mais um pouquinho e mais e mais e mais... É possível se apaixonar ainda mais mesmo quando se pensa não ter mais espaço. Com ele isso é possível. É possível sempre mais entrega e companheirismo. Então, o que posso dizer? Muito pouco. Nunca as palavras darão conta dessa magnitude de beleza.

Por isso hoje, que é o dia do aniversário dele, não é o único dia que eu o envolvo com toda a força em meus braços. Hoje é apenas o dia em que eu me preencho de alegria para devolver ao Universo a alegria desse presente que ganhei. E peço para que eu possa ter ainda muitos dias tão maravilhosos ao lado dele. Porque SIMPLESMENTE é ele. É ele: meu amor, minha paixão, minha vida.




quarta-feira, 3 de julho de 2013

Plebiscito sim!

Esse texto vai como um desabafo. Ontem à noite ouvindo a “Voz do Brasil” escutei o Dep. Federal Ronaldo Caiado (DEM) falar contra o plebiscito da Reforma Política. Seu argumento: o plebiscito vai tirar o foco das manifestações contra a corrupção. Eu nunca tinha ouvido um absurdo tão grande!!! Desviar o foco?? Um plebiscito é uma campanha constante de um assunto na tv, nas ruas, nas casas, na vida das pessoas! Como um plebiscito sobre a reforma política pode desviar o foco do debate das pessoas sobre a falência das instituições políticas?

Na verdade, é justamente o contrário. Um plebiscito é lenha na fogueira das manifestações! E, mais ainda, é o momento das mobilizações avançarem para além das críticas superficiais à corrupção e se posicionarem concretamente com um projeto de sistema político para o país. Se nós manifestantes não queremos intervir para alterar o sistema que gera a corrupção, então vamos guardar nossos cartazes anti-corrupção, porque eles são infantis. Do contrário, temos que exigir esse plebiscito. O Estado político no sistema capitalista é uma instituição alienada do povo justamente pelo fato de ser “privatizado” a cada nova eleição. Vivemos um sistema eleitoral pervertido, no qual é preciso muita verba pra campanha, para pagar marketeiros, fazer material gráfico, etc etc. Toda eleição é a mesma história: é o poder econômico quem manda. É uma disputa de quem tem mais dinheiro. E quem paga as campanhas são grandes empresários (por exemplo, máfia do transporte coletivo) que depois cobram a fatura interferindo contra as ações legislativas e executivas que deveriam ser a favor do povo.
 Pra romper com isso é preciso uma reformulação do sistema. E é preciso que seja de baixo pra cima, com o voto do povo, e por um motivo muito simples: o poder político está sob os tentáculos desse poder econômico e precisa do aval do povo para romper o que é necessário romper.

É no plebiscito, e não no referendo, que o povo indica o que deve ser feito antes de se fazer a lei. No referendo o povo pode apenas rejeitar uma lei. No plebiscito o povo indica o que quer mudar e depois o Congresso tem que fazer uma legislação de acordo com o que o povo escolheu. O plebiscito é a forma de consulta popular na qual o povo tem mais poder sobre o Congresso e por isso pode obrigar esse Congresso  a uma radicalidade de Reforma Política que jamais será alcançada se for feita por esse próprio Congresso ou por via referendo.

O momento agora é de irmos para as ruas defender a Reforma Política que queremos ver aprovada NO PLEBISCITO e não de lutar para que eles decidam sozinhos quais devem ser as medidas de mudança estrutural desse sistema. Tem muita gente de esquerda aí contra o plebiscito que repete o mesmo argumento da direita: o povo não está preparado para votar certo. Mas sem a participação do povo via plebiscito essa Reforma Política vai ser enrolação! O pior é ver esse mesmo “povo” comprando esse discurso. Não seriam contraditórios os manifestantes que chamam este sistema de corrupto e que querem deixar para esse mesmo sistema o total controle da Reforma Política? Ora, se o Estado político está alienado do povo e sendo usado em nome do bem privado, ou bem o povo interfere para tomar esse Estado de volta ou ele continuará o mesmo. E a arma possível hoje para o povo tomar o Estado de volta é o povo decidir neste plebiscito quais as medidas para alterar o sistema em suas entranhas. O povo que optar por abrir mão de intervir nesse sistema está optando por deixar o sistema alterar por ele mesmo, o que não será possível. Sem o plebiscito as mudanças estruturais necessárias jamais serão aprovadas!!! Uma Reforma Política Popular vai resolver tudo como uma mágica? Não. Mas sem ela nem saímos do lugar. A população pode votar de modo péssimo no plebiscito? Sim. Mas sem ele, com certeza o processo já está perdido. Por isso precisamos de um plebiscito sim! E precisamos disputar o seu resultado nas ruas!

O argumento do desvio de foco é desonesto por dois motivos principais. Primeiro porque só é possível combater a corrupção profundamente se for um combate em sua estrutura, ou seja, por uma Reforma Política POPULAR. Segundo porque só é possível ganhar mais amplamente as causas em nome da educação, saúde, direitos humanos, reforma tributária e reforma agrária se atrofiarmos o máximo que pudermos o poder do sistema econômico sedento de lucro sobre o sistema político, ou seja, se tivermos uma Reforma Política POPULAR. Terceiro porque só é possível fazer uma Reforma Política POPULAR  via plebiscito. Fazer o plebiscito da Reforma Política não só não é tirar o foco como ainda é FOCAR MAIS INTENSAMENTE na essência de todos problemas.

O argumento do despreparo do povo para um plebiscito é desonesto também por dois motivos. Por um
lado, advém de uma direita que na verdade não quer uma Reforma Política profunda e sabe que se tiver plebiscito não terá como enrolar o povo. A ideia de um referendo no lugar do plebiscito tem o claro objetivo de enrolar. De acordo com a OAB*, “no plebiscito, o povo é convocado antes da criação do ato legislativo (...) No referendo, ele é convocado posteriormente, após a aprovação de uma lei, por exemplo, pelo Congresso Nacional, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta legislativa (...) Aplicando-se as
definições ao que foi apresentado pelo senador piauiense, no caso do referendo, o processo seria ‘penoso’, ‘doloroso’, ‘espinhoso’ para a sociedade. O Congresso, por exemplo, poderia ter ‘dois trabalhos’. Aprovar uma lei e depois essa mesma lei ser rejeitada pela consulta popular do referendo.” Ou seja, o referendo poderia enrolar o processo e aí sim, ir-se-ia perder o calor das manifestações de rua que ocorrem agora.

Por outro lado, o argumento contra o plebiscito também advém de uma esquerda idealista, que fala tanto em intervenção do povo, mas ao invés de defender a consulta popular e ir para as ruas defender uma Reforma Política radical, instiga a rejeição do povo ao próprio instrumento desta consulta do mesmo modo que a direita tradicional o faz.

Repito: não há como aprovar qualquer mudança estrutural sem a intervenção do povo. E o plebiscito é essa intervenção hoje. Você teria visto tanta gente debatendo desarmamento no Brasil se não tivesse existido uma consulta popular sobre o assunto? Não. Imaginemos então um plebiscito da Reforma Política no calor da luta...

Estamos num momento de encruzilhada das mobilizações populares. O plebiscito é um combustível para as manifestações, um combustível que precisamos para sairmos do debate superficial e forçar para as mudanças estruturais tão necessárias no Brasil.

*Artigo: http://www.portalaz.com.br/noticia/geral/270925_artigodiferenca_entre_plebiscito_e_referendo.html

sábado, 29 de junho de 2013

Manifestos de Junho/13: algumas impressões e esperanças

Algumas impressões políticas pareciam bastante claras a mim nos últimos tempos.

PRIMEIRA IMPRESSÃO: a de que mídia há algum tempo faz uma campanha maciça contra a democracia na medida em que não politiza a crítica à corrupção ao mesmo tempo em que faz dessa crítica o centro dos problemas, transformando-a numa questão moral, não distinguindo as causas estruturais tanto da corrupção quanto dos demais problemas. Ou seja, a mídia, “à la CQC”, há muito tempo simplesmente  “arde a política no fogo do pecado”, como diz PHA. Joga tudo no saco da imoralidade pessoal para assim deixar oculta a causa da corrupção (que, acreditem, não está no fato de "uns estarem com Deus e outros com o Diabo"!) e deixarem indistintos os projetos políticos quanto às questões estruturais que prejudicam o país. Quando digo “há muito tempo” considero que desde o caso do Collor isso acontece, mas que nos governos Lula/Dilma se agravou, dado que a direita via mídia e judiciário encontrou no mensalão um modo de detonar o PT, abafando o mensalão do PSDB e sendo constante e  firme em seu projeto de construir a imagem do PT não como corrupto e sim como “governo mais corrupto da história” – um modo eficaz de dizer que as diferenças dos projetos no que tange  às questões sociais são praticamente nulas. (A despeito do Brasil no governo Lula/Dilma ter sido o único país além da China que, de acordo com a ONU, diminuiu a mortabilidade por Fome, leia-se Miséria -  em 40%. Seria uma diferença pouca???).

SEGUNDA IMPRESSÃO: a de que o governo precisava avançar para além dos grandes feitos no que tange a tirar o país da miserabilidade e partir para as reformas estruturais que todos da esquerda sonham há tanto tempo.

TERCEIRA IMPRESSÃO: a de que tal avanço estrutural estava constantemente e irritantemente sendo barrado em nome de um tal PIB para não deixar o país cair numa tal crise do capitalismo internacional que traz justamente desemprego e miséria.

QUARTA IMPRESSÃO: a de que tudo isso teria que ser pincelado por mim lendo artigos aqui e ali, ou seja, de que o governo não tem um canal de comunicação que nos permita entender o que está fazendo e porque está fazendo. 

QUINTA IMPRESSÃO: a de que isso tudo estava irritando bastante não somente a mim, mas a tantos e tantos movimentos sociais, ou seja, o governo também estava pecando na falta de diálogo direto, não mediado.

Nos primeiros dias em que vi o povo nas ruas me felicitei, tal como muitos colegas que pensavam parecido comigo: era o momento da esquerda cobrar da Dilma uma respostas às nossas expectativas para além dos avanços (enormes!!) na redução da miserabilidade. Exigir a redução das tarifas de transporte nos permitia exigir um posicionamento combativo contra o domínio do poder econômico nas tantas e tantas áreas estruturais do país. Era a ponta de lança em nome de uma guinada à esquerda. As primeiras manifestações de fato pareciam indicar isso. As esperanças renasciam.

De repente, entretanto, a coisa ficou obscura. Bastante simbólica foi a mudança de posicionamento de um dos jornalistas mais reacionários do Brasil, Arnaldo Jabor. Da crítica aos manifestantes ele então resolveu tentar pautar o movimento dizendo algo do tipo: achei que vocês fossem idiotas combatendo a máfia do transporte por R$0,20 centavos (ou seja achei que fossem idiotas combatendo o domínio do poder econômico nas questões sociais) Mas, que nada! Percebi que vocês são inteligentes: querem é combater apenas corrupção e ”sabem” que a corrupção é simplesmente o governo – e não a estrutura (ou seja, percebi que se vocês se voltarem só para a bandeira anti-corrupção e anti-governo os conservadores/capitalistas podem ganhar muito com isso!).

De repente, então, aqueles que queriam combater o domínio do poder econômico e exigir da Dilma mudanças estruturais à esquerda se viram ao lado de bandeiras conservadoras. Hein? Foi então que me lembrei de que havia esquecido da PRIMEIRA IMPRESSÃO: da campanha anti-corrupção feita de modo superficial pela mídia e que exaltava o poder Judiciário – aquele que até hoje não julgou o mensalão do PSDB e que tal como qualquer poder político do Estado capitalista é corrupto – como o poder salvador da pátria, sob a figura de um indivíduo moral Joaquim Barbosa.

O susto foi grande. Cogitei sair das ruas. Se for pra retroceder, melhor tomar cuidado. E então comecei a observar melhor. Na  verdade, apesar da mudança do Jabor ter sido também uma mudança da Globo em geral, o movimento não era completamente conservador. Pés no chão: não é só um movimento exigindo uma guinada à esquerda. E mais pés no chão: não é só um movimento conservador da direita. Não é um movimento só de pacíficos e nem só de vândalos. Não é um movimento só de pacíficos anti-vândalos, tem também só de pacíficos pró-vândalos. É um misto. É um movimento que se volta contra os símbolos do capitalismo, é um movimento que tem bandeiras conservadoras, é um movimento que detona a Globo/mídia, é um movimento que quer aparecer na Globo/mídia, é um movimento que quer a guinada à esquerda, é um movimento que quer a guinada à direita, é um movimento de apartidários anarquistas, é um movimento de apartidários fascistas, é um movimento de apartidários que nem sabem o que querem no lugar dos partidos e julgam não terem a responsabilidade de responder a essa pergunta quando combatem os partidos. É um movimento que se mascara como Anonymous que parece mais distante do Anonymous internacional que qualquer desmascarado. É um movimento cara limpa que se recusa fazer aliança com Anonymous. É um movimento de coxinhas. É um movimento de socialistas. É um movimento por mudanças.

Pés no chão é um “balaio de gatos”. Pés no chão: sair das ruas é a pior opção.

No meio desse balaio, começam a sair pautas de reivindicações. E minha impressão é péssima. Com tanta coisa urgente e necessária, as pautas se mantêm no nível da moral superficial e não da estrutura política, não da mudança profunda, nem mesmo quando trata a corrupção. E de repente a coisa começa a virar. A Dilma anuncia, apresenta e faz aprovar os royalties do petróleo para a educação e saúde. É aprovada a lei que torna a corrupção crime hediondo. E, principal, Dilma vai a fundo no que de fato pode mudar a estrutura da  corrupção: é preciso fazer uma Reforma Política!!!

E agora estamos no ponto em que separamos o joio do trigo. Como não poderia deixar de  ser, a Globo faz campanha indireta contra a Reforma Política. Depois de estimular os movimentos sob a bandeira “à la Arnaldo Jabour”, agora a Globo considera que o povo é incapaz de participar do processo: “Fazer Reforma Política é perigoso!!!” Leia-se: acabar com a possibilidade dos acordos econômicos eleitoreiros e mafiosos que permite os firmes tentáculos do capital sobre os políticos é perigoso! Os conservadores gritam na Globo através da voz dos seus cientistas políticos cheios de medo. Daqui a  pouco chamam a Regina Duarte para nos lembrar do perigo!!! 

PHA traz um temor contrário ao dos conservadores e que se assemelha ao meu: e se a Reforma Política for de novo pra gaveta??? Pela falta de comunicação efetiva, pode ser  que muitos caiam nessa conversa da direita-Regina Duarte. E então talvez não consigamos fazer essa Reforma Política. E então talvez ficaremos a vida inteira tendo que ouvir do povo cheio desse medo global continuar gritando contra corrupção por uma eternidade e a Globo cheia de poder falar contra a corrupção numa cara lavada que faz inveja a qualquer máscara do Anonymous. É que, diz PHA, “Desde 1994, a Globo controla 80% de toda a verba da televisão aberta. Nenhuma Democracia do mundo permitiria que a lei que regula a rádio-difusão não se atualizasse desde 1963. Em 1994, ela tinha 80% da audiência. Hoje, tem 45% da audiência. Mas, não faz diferença. Os 80% só os mesmos e o bolo da grana aumentou. E agora ?"

E agora? E agora que sigo com esperanças!!! Porque esse movimento nas ruas, como eu disse, não se resume a abraçar as causas do Jabor, mas também o escorraça. É um balaio de gatos e tudo pode acontecer. Não é que eu tenha ilusões de que a Reforma Política não possa dar errado, ser tomada pela direita no meio do caminho. Mas penso que o importante é, pelo amor de Deus (!), que ela leve de uma vez por todas um solavanco para começar!! E então disputemos democraticamente o seu tom! Se não for agora, não será nunca!

 E espero que o governo não precise que peçamos que se faça imediatamente a democratização da mídia!!

Como sou cheia de esperança, já parto para a campanha pela outra pauta urgente depois que garantirmos a Reforma Política. "Próxima, por favor... Reforma Agrária!”

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vamos voltar às ruas por Reforma Política e Educação!!

Do balaio de reivindicações catalisadas em torno da reivindicação da diminuição da tarifa do transporte, as que eu sempre considero principais são as que buscam atacar as causas ao invés de atacar simplesmente os efeitos. Penso que pra mudar realmente as coisas nesse país, não podemos ficar fazendo leis que se focam nas consequências e sim ir mais a fundo, entendendo as causas. Por exemplo: é importante criar leis punitivas a crimes? Sim. Mas mais importante ainda é alterar a situação concreta que induz o indivíduo ao crime. Se somos contra a corrupção devemos nos perguntar: o que causa a corrupção? Se somos contra o conflito de terras nos quais morrem tantos pequenos agricultores e índios, devemos nos perguntar: o que causam os conflitos de terra? E por aí vai. E devemos buscar as perguntas na estrutura e não simplesmente na falta de leis. Leis temos aos montes. Por que elas não são suficientes? Porque é preciso focar nas causas.

Muito mais importante do que leis permitam a condenação dos corruptos (como a queda da PEC 37 e a lei que torna a corrupção crime hediondo), é a Reforma Política. É esta reforma e não outras leis quaisquer que deve alterar a estrutura que gera a corrupção política desde o financiamento privado de campanhas eleitorais. A Reforma Política é muito mais importante contra a corrupção do que qualquer lei punitiva, porque ataca as causas ao invés de se focar nos efeitos.

Neste sentido, as medidas que a presidenta Dilma anunciou através das reivindicações foram bem melhores que aqueles 5 causas feitas em nome do movimento. Dilma destacou:

- Reforma Política (deve alterar o sistema de corrupção onde ele começa, na semente, na campanha eleitoral)
- 100% dos royalts do Pré-Sal para a Educação (educação é a base de tudo! A falta de qualidade na educação é causa de inúmeros males desse país!)
- Lei de Acesso à Informação (a transparência ao uso do dinheiro público, nos permitindo atuar também inibindo a corrupção na sua base: o ocultamento)
- Democratização dos meios de comunicação (para reverter a histórica máfia de comunicação no país e colocar o povo no poder da mídia!)
- Saúde: trazer mais médicos do exterior (ficou a desejar)

Para mim faltou sobretudo mais um essencial:
- Reforma Agrária (para democratizar o acesso à terra e demarcar urgentemente as terras indígenas)

O mais interessante é como estas medidas vão mais a fundo que as levantadas pelo movimento. Os movimentos se focaram em consequências, a presidenta se voltou para as causas. Ocorre, entretanto, que para o governo ir em frente, o povo precisa continuar nas ruas!!! Não depende da Dilma realizar nenhuma das bandeiras acima, já que precisam da aprovação no congresso. Então, é preciso o povo nas ruas! E penso que as duas primeiras que reivindicações (Reforma Política e Royalties na Educação) deveriam ser as nossas reivindicações mais imediatas! Vamos de volta às ruas!!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Flor que brota em pedra



Foi mais ou menos assim… Eram os meus primeiros dias de faculdade. Não me lembro bem em qual deles, eu achei aquela chinesa instigante. Ela me deu medo. Um pouco porque sempre fui medrosa e um pouco porque eu conseguia enxergar por trás da sua estrutura física fina e delicada uma força fogo. Na verdade, o seu semblante firme expressava muita certeza e assustava essa de cá, sempre incerta de tanta coisa. Os meus olhos vagavam para cima...

Ela passou um caderninho para deixar mensagens e escrevi algo completamente abstrato com uma intenção de aproximação. Não sabia porquê, mas queria ser amiga daquela estranha. Acho que talvez eu quisesse aprender a ser forte. A ser altiva e firme como eu a via. Começamos a ser amigas e eu nem me lembro bem da fase inicial. De repente já era super amiga e pronto. O que eu não imaginava antes era que com ela eu aprenderia não exatamente a ser forte, mas simplesmente a gostar das minhas dúvidas. Que com ela eu aprenderia não exatamente a ser firme, mas a gostar de ser lúdica. Não sabia que com ela não iria aprender a ter o controle, mas a gostar de arriscar. Não sabia que com ela eu não iria aprender a ser campeã, mas simplesmente a gostar de jogar. Ou a gostar de ser ridícula para tantos. A gostar de ser completamente gente. Pelos corredores da faculdade saíamos do sério, completamente fora das etiquetas e aprendíamos os maiores jogos de linguagem do universo. Finalmente alguém que falava mais do que eu e sem pedir licença. Alguém que entregava-se ao pranto ou à gargalhada sem vergonha e sem perder a altivez. Alguém que revelava a filosofia como uma brincadeira de criança, me transportando para os meus 10 anos de idade.

Quando eu quis me aproximar daquela chinesa instigante, eu jamais imaginava que existia  um ser humano tão completamente humano. Não sabia que alguém podia ser empatia o tempo todo. Eu não sabia que era possível a tão pura lógica ser mais completamente amor e receptividade do que imposição. A gente aprendeu a compartilhar nossas infinitas teorias sobre o mundo, mas ela me ensinou o desvalor da pura razão perante o poder do corpo. A gente aprendeu a exercitar a sagacidade intelectual, mas ela me ensinou que o amor e energia são mais convincentes. Não consigo explicar tantas coisas que ela me fez saber des-sabendo... Ela me fez descobrir que vale a pena mais sabores e cores do que o familiar, que os sentidos nos trazem mais vida que as teorias, que a natureza traz maiores respostas do que as bibliotecas, que não há vida fora da comunhão e da elaboração criativa... O que eu aprendi com ela foi algo completamente inesperado e maior que o herdado em todos os anos de faculdade: eu aprendi a voar. De alma e de corpo.

Essa chinesa linda que continua me instigando até hoje me fez saber, sobretudo, que a vida dentro da vida não vem de graça: cada segundo é um segundo de resistência ao moinho dos sistemas que nos chegam prontos e absolutos. Ela é simplesmente como flor que brota em pedra. Ela é rara como a beleza e o nome que traz: Lian.  Tem aquela luz de poucos. É por isso que no seu aniversário eu sempre faço, ao meu modo, uma prece. Agradeço ao universo esse belo presente do acaso e me emociono por saber que Lian vaga por aí de chinelos de dedo brotando em pedras e inspirando liberdades. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pulso

Hoje eu quero perfume doce mas ontem o áspero e refrescante eu queria cabelos até cabelos no chão e de repente mais leves que uma pluma saias longas se foram apenas para voltar de novo meu encanto por pulso na batida quebrada nunca resiste ao charme da melodia da bossa ou do mais óbvio romance eu quase repito a lua de Cecíclia que ora se esconde e ora se esbalda na rua mas não na verdade nem a lua me serve como metáfora são tantas e tantas aqui que 4 fases seria um alento há quem diga que isso é qualidade é preciso mudar caminhos e de lado da rua para se sentir vivo disse o conselheiro por aí mas não esse pulsar é sufocante quando é absoluto mas não ele é mesmo a única vida possível dentro da vida é a pegada de ar mas não mas sim mas não o inédito é o mais sublime mas não supera o sublime do novo no mesmo mas olha essa harmonia disritmica mas olha o Chico mas então quem pode explicar que de todos os sons filosofias cheiros e gostos dialética e absoluto guerra e paz caos e silencio o amor seja o mas não mais sim que existe? Amor é só sim do amor eu quero só o sim com o não amor com tudo dentro é a minha única lua.