sábado, 10 de maio de 2014

Lian, obrigada por cuidar bem de você!



Lian, hoje é seu aniversário e estou aqui pensando em que buraco você se escondeu dessa vez. Em que pedra subiu ou em que árvore se dependurou. A única certeza que eu tenho é que você foi celebrar o seu dia do modo mais precioso para se alimentar o espírito. E fico tão imensamente feliz de pensar que você está tomando conta de você, tomando conta do jeito que se deve, de um modo inteiro, de corpo e alma, da maneira que tem direito e com todo o cuidado necessário.

Houve um tempo em que achei que eu podia cuidar de você, te proteger de qualquer coisa que viesse lhe fazer mal. Porque muito cedo eu percebi que aquela menina de traços tão resolutos era, na verdade, o ser humano mais sensível que eu já havia conhecido. Eu achava que só eu percebia isso. E algo me fazia crer que só eu poderia sempre te defender de todo o mal.  Taí um capítulo digno que faltou em nosso gibi. Então, vamos lá, eu dizia, não precisa se preocupar, eu sei ser forte e vou cuidar disso pra você não chorar. Ou então, desatava a te dar broncas: esse caminho não... Não vai por aí, não vai por aí... Mas, de repente, quando eu me dava conta, era eu quem estava chorando embasbacada e você é quem estava ali me defendendo e sendo forte sem derramar uma lágrima. De repente, o mundo dava uma de suas primeiras cacetadas contra nós – e nem imaginávamos o que ainda viria pela frente – e era você quem estava cuidando de mim.   De repente, só você conseguia me proteger. E aquela fragilidade foi se revelando pra mim na sua maior capacidade de reverso. E eu percebia cada vez mais desconfiada e mais intrigada que a mais imensa sensibilidade e os mais malucos riscos podem ser as formas mais eficazes de se proteger do mundo. E eu gostei tanto! Gostei tanto disso! Você se mudou para o Rio e, sim, você sabia se proteger, sobreviver e viver! E, mais do que isso, você, simplesmente você, assim do jeitinho que você é, era uma escola para o mundo inteiro.

Com você o óbvio cada vez mais se desfaz de um jeito mais bonito, criativo e amoroso. E o mundo, que de repente se revelou muito mais difícil do que eu imaginava, também se mostrou possível de ser muito mais prenhe de humanismo, de sonho e de beleza do que antes... E tudo isso na medida em que você, tão pequenina, foi se abrindo mais para ele- tão imenso, controverso e assustador. Nesse processo, você se tornou mais do que uma amiga, se tornou uma espécie de porto seguro da minha esperança: se existe uma alma tão linda como a da Lian, tudo, tudo pode ser diferente. Tudo pode ser diferente não simplesmente por poder ser mais amor (por favor!), mas por poder ser mais amor na liberdade de todos os mesquinhos preconceitos, no desejo real de (re)conhecimento de humanismo nos “estranhos” para além de diferenças de cultura ou de posses materiais, no retorno à infância de maneira genuinamente entregue ao riso solto e ao mundo da fantasia, na possibilidade de uma elaboração desinteressada de arte, na conversa de silêncio sem pressa com a natureza. Com você o mais amor é muito, muito mais humano: é revirada e quebra de todas as receitas de sobrevivência e vivência sempre que essa quebra seja mais beleza e encantamento.

Então, seja lá onde estiver, obrigada por cuidar bem de você. Obrigada por cuidar bem de você cuidando bem do mundo, coisa tão difícil hoje. Obrigada por escolher criteriosamente seus alimentos, por subir tão alto e por arriscar tanto sua subjetividade. Obrigada por se dar o direito fugir de tudo para um encontro verdadeiro contigo mesma sempre que julgar isso necessário. Eu sei bem que o mundo precisa muito, muito de você e que, especialmente hoje, o universo inteiro agradece todo esse cuidado. Mas eu agradeço ainda mais, porque na teia dos caminhos do meu universo particular, você é um dos sentidos realmente essenciais de uma mais completa (des)ordem!