domingo, 29 de novembro de 2009

Picante, ardido ou amargo?


Tenho algumas teorias sobre alimentos e sabores que às vezes parecem absurdas. Acho que agora sei a quem puxei: meu pai! Costumo dizer que certas coisas que comemos, ao serem processadas pela saliva, liberam um sabor semelhante a coisas totalmente diferentes. Uma das experiências comprobatórias é a mistura de pão lotado de requeijão com leite lotado de chocolate. Quando misturados na boca ficam com um gosto totalmente inesperado: carne! Isso é tão certo que acabei diminuindo o requeijão e o chocolate, já que a intenção no café da manhã não é sentir aquele gostinho de carne. Disse pra Lian que talvez fosse pelo fato do requeijão ter muita proteína, assim como a carne. Confesso que ela tem razão em ter rido disso!

Mas ontem percebi que meu pai deve ser a fonte dessas insanidades sobre os alimentos. Falei pra ele que percebi que a apreciação dos sabores mudam com os anos. Quando crianças, não gostamos de misturar doce com salgado e quando adultos começamos a apreciar muito a mistura agridoce: passas com arroz, geléia com pão, panetone... Ele concordou e me disse mais: que quando adultos mais velhos passamos a gostar mesmo é do amargo. Chocolate amargo, guariroba... Então eu concluí que vai demorar pra eu envelhecer, pois odeio guariroba e rabanete. Daí ele veio com sua teoria: rabanete não é amargo, é picante. "Picante é pimenta pai, rabanete é amargo sim".

Meu pai ficou um bom tempo tentando me convencer que existem três caracterizações diferentes: amargo, picante e ardido. De acordo com ele, pimenta é ardido, rabanete é picante e guariroba é amargo. Então tá né! Ele é a minha "fonte"!

Benjamin: repetição

A última denúncia envolvendo o Lula é mesmo muito ridícula. Surpreendente é ela ter partido de César Benjamim, um ícone da intelectualidade da esquerda do Brasil. Para mim demonstra apenas que não há limites para a perversidade do jogo da política.

Dessa vez o nível desceu muito, o que indica a baixaria que há de vir na campanha de 2010. Benjamim disse em artigo que numa conversa informal, em 93, Lula teria afirmado que tentou abusar de um jovem militante durante uma prisão no DOPS. Ainda aponta testemunhas da conversa.

Um dos publicitários que estariam presentes, Paulo de Tarso, mandou nota à Folha esclarecendo que o almoço mencionado por Benjamim ocorreu, mas que não se recorda de tal afirmação de Lula, nem mesmo da presença de Benjamim. Já o publicitário Silvio Tendler, testemunha em que Benjamim não lembrava do nome, afirmou que Lula contou uma piada e lamenta se Benjamim não é capaz de compreender uma piada.


Fiquei imaginando a cena: Lula contando de seus dias de prisão no DOPS e afirmando em tom de brincadeira algo como "tanto tempo sem mulher que eu quase peguei fulano"... E agora, 10 anos depois, um cara como o Benjamim recebe uma proposta milionária para falar algum podre do antigo amigo. Não tendo o que falar, solta esse absurdo. Lula disse estar muito triste e que a afirmação de Benjamim "é loucura". Já aprendi que esse tipo de insanidade não é só loucura, é maldade mesmo. Só posso concluir que aquilo que aprendemos nos desenhos sobre bem e mal existe sim no mundo real.

E ainda me perguntam por que é que eu não milito no mundo parlamentar! Eu simplesmente não tenho disposição para lidar com a difamação, ainda mais num país em que a imprensa dominante faz questão de confundir as pessoas jogando todos os parlamentares no mesmo balaio. E onde tanta gente acha que esse analfabetismo político, exercício de generalização, é sinônimo de consciência crítica. Principalmente muita gente de "esquerda" que eu conheço, que não sabe respeitar aqueles que possuem outra estratégia para mudar a sociedade que não seja só o "quanto pior, melhor". Acho que Benjamin não foi mais uma decepção, mas sim mais uma repetição. Repetição da falta de caráter dos que se dizem "de esquerda".

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Por que escrevo

Parei de escrever há algum tempo por não saber definir. Porque em cada palavra os limites pareciam me apertar, sufocar o que já está caindo pelas bordas quando se escreve para saber sentir. Mas hoje esses limites tentam me caber e eu escolho aqueles bem largos, que aceitam, que se delineiam com o contraditório, com as fugas e vindas dos sonhos e verdades. Verdade. Palavra feia que me parece querer ser gente. E nunca vai conseguir. Mesmo com tanto tipo de gente que existe, a verdade está fora da realidade. Ela pede margens segmentadas, mas elas sempre tocam os dois limites. Eu passo em quase todos eles, por isso não estou em nenhum. A margem se apaga que nem pegada na areia sob o mar. Agora escrevo porque vi que as palavras pouco tem a ver com barreiras. Palavra feia que tanta gente quer ser. Eu não.