sábado, 7 de dezembro de 2013

A dança do Bosque Auguste de Saint Hilaire

(Artigo experimental para o Jornal Samambaia - UFG, 2005)        

  Em maio a barriguda tem flor. E suas folhas vão caindo. Quando for tempo dos frutos amadurecerem, ela já deve estar totalmente desfolhada. Enquanto isso outras árvores nos fazem sombra com suas copas verdinhas e cheias.  No Bosque-Saint Hilaire do Campus Samambaia a dança é assim: cheias e despidas, verdes e coloridas, folhas caindo em algum lugar. Folha, desfolha, desfolha, folha: “nunca a queda das folhas é uniforme” – afirma o Professor Doutor José Ângelo Rizzo. Ele explica: “é uma cobertura característica da região centro-oeste e chama-se Floresta Semidecídua Estacional”.
O Bosque Saint-Hilaire resultou de uma fragmentação ocorrida há muitos anos em uma região de área verde maior, resultado da urbanização. É um fragmento com aproximadamente 20 hectares, uma das poucas áreas com vegetação primitiva no município de Goiânia. Seu nome homenageia o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que esteve em Goiás no início do século XIX e atuou em benefício da conservação dos recursos naturais desta região. O bosque possui permanente política de preservação desde a década de 60 e hoje está totalmente integrado, não degradado. Esses são dados da Unidade de Conservação da Universidade Federal de Goiás, dirigida pelo Professor Rizzo. As trilhas ecológicas, as mesinhas e bancos instalados, as placas que trazem o nome científico de várias plantas são mecanismos administrados pela Unidade para permitir uma interação saudável com a natureza: “sem prejudicar a estrutura da mata, que deve se manter em processo de recomposição normal”.
A proteção de tela que envolve o bosque não impede a circulação das pessoas dentro dele. Árvores, estudantes, professores, macacos e outros bichos convivem em harmonia. Os macacos, que se mantiveram nesse fragmento verde, pulam de galhos, carregam filhotes nas costas, atravessam os caminhos. E quem passa sempre pelo bosque aprende a lidar com eles. Seja dividindo ou escondendo o lanche.  “Uma vez um deles roubou uns biscoitos de peta que eu estava trazendo da FAV”  afirma a estudante de jornalismo Lian Tai.  “Já vi eles várias vezes revirando o lixo, até refrigerante eles tomam”, conta o ex-estudante de filosofia Relton Júnior. Mas bolachas e refrigerantes não são aconselháveis para a dieta destes diferentes primatas. De acordo com o Professor Rizzo existe a idéia de se fazer um projeto que pesquise a situação da população dos macacos no local para a elaboração de políticas de controle: “sem um predador a população pode crescer muito e não ter condições de se alimentar”, afirma. Para a Unidade, só depois desse estudo será possível resolver a insuficiência de alimentação na flora, possivelmente através de um plantio de árvores frutíferas. Isto sinaliza que as latas de lixo seletivo, que de acordo com Rizzo foram instaladas para iniciar um aprimoramento da coleta seletiva, continuarão por algum tempo sendo reviradas pelos macaquinhos, assim como as latas comuns distribuídas pela UFG.
Pesquisas como a de levantamento da população dos macacos precisam ter a autorização da Unidade de Conservação para serem realizados. A coleta de aves para o “Estudo Integrado para o Conhecimento da Ornitofauna do Estado de Goiás”, por exemplo,  só pôde ser feita no Bosque Saint-Hilaire após aprovação da direção da Unidade. Assim como o projeto “A escola vai ao bosque”, que permite que as escolas da rede municipal e estadual tragam estudantes para aulas de educação ambiental na mata.
A conservação do Bosque Auguste de Saint-Hilaire objetiva a preservação da vegetação primitiva de uma floresta semidecídua estacional, que é típica da nossa região. Além disso proporciona, é claro, que os bichos cruzem nossas trilhas e que a dança continue. Pois depois das Paineiras, tem a floração dos ipês amarelos, roxos, brancos...


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