(Artigo experimental para o Jornal Samambaia - UFG, 2005)
Em maio a barriguda tem flor. E suas folhas vão caindo. Quando for tempo dos frutos amadurecerem, ela já deve estar totalmente desfolhada. Enquanto isso outras árvores nos fazem sombra com suas copas verdinhas e cheias. No Bosque-Saint Hilaire do Campus Samambaia a dança é assim: cheias e despidas, verdes e coloridas, folhas caindo em algum lugar. Folha, desfolha, desfolha, folha: “nunca a queda das folhas é uniforme” – afirma o Professor Doutor José Ângelo Rizzo. Ele explica: “é uma cobertura característica da região centro-oeste e chama-se Floresta Semidecídua Estacional”.
O Bosque
Saint-Hilaire resultou de uma fragmentação ocorrida há muitos anos em uma
região de área verde maior, resultado da urbanização. É um fragmento com
aproximadamente 20 hectares, uma das poucas áreas com vegetação primitiva no
município de Goiânia. Seu nome homenageia o naturalista francês Auguste de
Saint-Hilaire, que esteve em Goiás no início do século XIX e atuou em benefício
da conservação dos recursos naturais desta região. O bosque possui permanente
política de preservação desde a década de 60 e hoje está totalmente integrado,
não degradado. Esses são dados da Unidade de Conservação da Universidade Federal
de Goiás, dirigida pelo Professor Rizzo. As trilhas ecológicas, as mesinhas e
bancos instalados, as placas que trazem o nome científico de várias plantas são
mecanismos administrados pela Unidade para permitir uma interação saudável com
a natureza: “sem prejudicar a estrutura da mata, que deve se manter em processo
de recomposição normal”.
A proteção de
tela que envolve o bosque não impede a circulação das pessoas dentro dele.
Árvores, estudantes, professores, macacos e outros bichos convivem em harmonia.
Os macacos, que se mantiveram nesse fragmento verde, pulam de galhos, carregam
filhotes nas costas, atravessam os caminhos. E quem passa sempre pelo bosque
aprende a lidar com eles. Seja dividindo ou escondendo o lanche. “Uma vez um deles roubou uns biscoitos de
peta que eu estava trazendo da FAV” afirma a estudante de jornalismo Lian Tai. “Já vi eles várias vezes revirando o lixo, até
refrigerante eles tomam”, conta o ex-estudante de filosofia Relton Júnior. Mas
bolachas e refrigerantes não são aconselháveis para a dieta destes diferentes primatas.
De acordo com o Professor Rizzo existe a idéia de se fazer um projeto que
pesquise a situação da população dos macacos no local para a elaboração de
políticas de controle: “sem um predador a população pode crescer muito e não
ter condições de se alimentar”, afirma. Para a Unidade, só depois desse estudo
será possível resolver a insuficiência de alimentação na flora, possivelmente
através de um plantio de árvores frutíferas. Isto sinaliza que as latas de lixo
seletivo, que de acordo com Rizzo foram instaladas para iniciar um
aprimoramento da coleta seletiva, continuarão por algum tempo sendo reviradas
pelos macaquinhos, assim como as latas comuns distribuídas pela UFG.
Pesquisas como
a de levantamento da população dos macacos precisam ter a autorização da
Unidade de Conservação para serem realizados. A coleta de aves para o “Estudo
Integrado para o Conhecimento da Ornitofauna do Estado de Goiás”, por exemplo, só pôde ser feita no Bosque Saint-Hilaire após
aprovação da direção da Unidade. Assim como o projeto “A escola vai ao bosque”,
que permite que as escolas da rede municipal e estadual tragam estudantes para
aulas de educação ambiental na mata.
A conservação do Bosque Auguste de Saint-Hilaire
objetiva a preservação da vegetação primitiva de uma floresta semidecídua
estacional, que é típica da nossa região. Além disso proporciona, é claro, que
os bichos cruzem nossas trilhas e que a dança continue. Pois depois das
Paineiras, tem a floração dos ipês amarelos, roxos, brancos...
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