segunda-feira, 18 de julho de 2016

O que emerge do lago profundo?

O que emerge do lago profundo? As linhas frágeis que costuraram os tecidos de uma vida. A agulha torta que um dia passeou entre suas poucas linhas engarranchando tudo com uma desordem despropositada. Os retratos em papel velho que desbotaram as dores de uma memória confusa. Algumas notas musicais vazias que sobraram daquela canção mal tocada no violão desafinado. Salivas que voaram sem cuidado e empestaram o ar de fumaça. Sorrisos que se esqueceram perdidos na graça de outrem. Aquela dança dos tambores que se queria interminável. O gato preto que nunca deu azar, mas sumiu em busca de uma comida mais quente. Os retalhos coloridos que não se descosturavam alegremente. O cansaço das notícias que ainda não sabem que são velhices. A formiga que boiou n’água antes de carregar sua folha até a casinha. Todos os anéis de prata tortos e perdidos nas horas correiras. Coraçõezinhos cor de rosa absolutizantes de uma delicadeza insuportável. Dedos mal educados que sabiam gargalhar. Temores daquele dia em que a alma pediu para ser pedra. Rodinhas do patins tímido das pernas gigantes. Mil tesouras sem corte e sem graça. A queda livre que entrou no estômago. As lágrimas disfuncionais. Os eternos cachorros que brincavam no quintal das roupas dependuradas. O tempo vagaroso. O tempo cego. O tempo impaciente. A força vã. A força geradora. A força . As delícias. As delícias.As delícias.


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