sexta-feira, 12 de março de 2010

China: primeiras impressões

Os dias andam corridos e sem inspiração ou, simplesmente, vontade de escrever para o blog. Como a Lian é minha guardiã de coisas que começo e não dou continuidade, ela sugeriu que eu postasse algumas impressões  que tive e registrei durante meus primeiros dias na China, em janeiro. Então, para quem ainda não leu, aí vai...

"Janeiro de 2010 - China: primeiras impressões

Há alguns dias desembarquei na grande China, ou “Império do meio” e alguma coisa, como parece estar escrito nos ideogramas...

Desde que nasci meu pai fala da China como o grande país do futuro. Ele morou em Beijing durante um os anos de chumbo do Brasil e os ares da revolução cultural chinesa. Ele aprendeu um pouco do mandarim e táticas de guerrilha para lutar pela democracia em seu país natal. Desde então em tudo o que vai fazer tenta incluir a China no meio. Lançar minha irmã como cantora no ano novo da China, mandar minha outra irmã, Tati, estudar um ano na Universidade de Beijing, ler Mao Tse Tung quase todos os dias e, nos últimos anos, fazer comércio. China pra lá, China pra cá, todos da família já haviam estado aqui em algum momento, menos eu. Agora chegou a minha vez!

Pela previsão do tempo, -16 graus Celsius, confesso que fiquei temerosa de vir. Mas não resisti à oportunidade, claro. E ainda bem! Por mais que tenha ouvido falar sobre a China durante vários anos, visto algo em filmes, documentários e livros, não há como descrever o que esse país é. Minha irmã Tati talvez tenha utilizado a melhor frase nessa tentativa: “É um outro planeta!” Só agora consigo compreendê-la bem! Tantas impressões erradas, pequenas diante de tanta grandeza, tanta falta de imaginação e de possibilidade de pensar em algo assim... Não sei bem o que dizer, e como dizer, sobre tudo o que estou vendo nestes poucos dias por aqui. Vou tentar escrever um pouco sobre as primeiras impressões. Nada muito compromissado, apenas como turista completamente perplexa mesmo, que é como me sinto neste momento!

Ao desembarcar em Beijing nem acreditava que havia chegado. Tanto tempo dentro de aeroporto, avião, que nem mesmo o luxo de uma viagem como essa consegue impedir o imenso cansaço. E a sensação de que realmente se está indo para o outro lado do meu mundo! Pegar malas, taxi, chegar ao hotel, passar pela confusão do fuso horário... E ainda manter um grande sorriso por dentro pela surpresa a cada passo: China!

Após o alívio em se descobrir que não só não morreremos de frio como ainda iremos gostar do clima “refrescante”, a verdadeira estadia começa. Aqui o céu está o tempo todo cinza, acho que pela mistura do frio com a poluição. Mas a suntuosidade de Beijing não dá prá esconder.

Os prédios aqui são grandes, grandes e bota grande nisso! Diferentes, modernos, vistosos. Cada um dá vontade de parar pra tirar uma foto, mas não caberia muito bem no quadradinho. A arquitetura é bem misturada e às vezes muito maluca e diferente de tudo, tudo o que já vi. São Paulo vira apenas mais uma cidade diante da grandeza de tudo isso aqui. As avenidas são quase todas muito largas, lembrando um pouco as de Brasília. Tento comparar, mas é bem difícil.

Aqui tem grandes shoppings, mas são muito interessantes e chamam atenção pela variedade . às vezes penso que não deve ter moda por aqui, pois tem de tudo, pra todos os gostos possíveis e inimagináveis e de muita qualidade e também luxo. Quando minha mãe veio em 1994 só vendiam água em estado quase fervente, não se encontrava água gelada pra beber. Hoje a maioria das coisas que vejo por aqui não se encontra no Brasil. Pelo menos não com tanta variedade e qualidade. Fomos a shoppings populares de coisas bem baratas e nos mais luxuosos. O último que fui hoje deixa a grande Galeria Lafayette de Paris bem simplória. Não só falando em grandes marcas consagradas da moda européia, mas em outras novas e bem refinadas.

Nos shoppings populares, que é onde se deve comprar de verdade, temos que pechinchar bastante. Uma banca atrás da outra e, quando paramos pra olhar alguma coisa, as chinesas vendedoras já se aproximam falando em bom inglês o quanto queremos pagar. Melhor não perguntar a elas o preço, pois a partir de então elas não irão desistir mais. Nos seguem, nos seguram, nos puxam a roupa, não nos deixam ir até fechar negócio. E a oferta é grande!!! Me parece que a lei é aumentar um zero a mais no preço. Quer dizer, se elas dizem que um tênis custa 250 yan é porque podemos comprá-lo por 25 yan, desde que pechinchemos bastante. E vale a pena. Pois a quantidade de coisas que se pode encontrar de qualidade de réplica de marcas conhecidas é enorme. E de coisas bem chinesas e muito lindas também. Bolsas, chapéus, camisetas, tênis, óculos, carteiras, etc, etc....

No primeiro dia que chegamos fomos a um mercado, na verdade uma espécie de feira. Ficamos surpresos com a variedade de comidas estranhas. Algumas coisas nunca tínhamos visto na vida, algumas eu nem sei bem o que eram e outras até conhecíamos, mas de um modo muito diferente. Desde que entramos neste mercado até hoje identificamos um cheiro típico da culinária chinesa. Está em todos os centros de alimentação e às vezes os perpassa. Também um sabor relacionado ao cheiro. Nos causou alguma estranheza no começo, algo que não sabemos dizer se gostamos ou não. Ontem fui com o Fernando e a Sissi comermos pizza e identificamos uma espécie de semente no tempero e descobrimos daí a origem do cheiro! Sissi disse-nos que é uma pimenta preta, mas não sei qual o nome disso no Brasil. Mas agora sabemos pedir quando não queremos esse tempero, o que facilitou um pouco nosso paladar!

Tenho que parar um pouco para falar de Sissi. Ela é filha de uma amiga do meu pai, que é intérprete, e morou dois anos em Portugal. Ela fala um bom português e foi nos buscar no aeroporto e nos ajudar com tudo mais. Sissi já foi chegando bem despachada, como se nos conhecesse há anos. E essa foi a impressão que tive dela, o que nos trouxe uma rápida intimidade. Ontem eu e Fernando resolvemos sair com ela ao final da tarde e ela agora anda abraçada comigo o tempo todo. Abraçada mesmo, às vezes até cola o rosto no meu! Sissi me lembrou outras chinesas que conheci através do meu pai no Brasil e me levou à certificação de uma impressão já antiga de uma pureza de sentimentos que eles possuem. Nao fazem muita sala para se aproximar quando gostam da pessoa e expressam de modo muito espontâneo e intenso essa amizade. Não temem um sentimento de frieza do lado oposto. Falei com Sissi que os chineses eram um povo muito receptivo e aberto, diferente dos europeus. Ela não concordou, disse que são bem fechados e fiquei pensando nisso. Talvez sejam mesmo fechados no sentido de serem meio “carrancudos” e desconfiados num momento inicial. Mas quando por algum motivo se identificam com a pessoa estão dispostos a oferecer a ela a amizade mais pura e sincera, que não pede em troca.

Posso estar errada, mas vendo os programas de televisão chineses e o senso de humor que eles têm, percebo uma certa ingenuidade, o que me soa mesmo como uma pureza de sentimentos. Nada idealizado ou perfeito, simplesmente diferente de tanta malícia que estou acostumada a ver no Brasil e em tantos lugares. Aqui os filmes e “novelas” são muito singelos e com pouco preconceito no sentido de piegas, essas coisas. No clipe da MTV chinesa o garoto chora quando a menina coloca uma flor com alfinete no seu casaco. Coisas assim...

Bom, vou ficando por aqui e vou tentar escrever um pouco todos os dias pra não acumular muita coisa. Ainda nem comecei a parte das visitas turísitcas/históricas. Imagine só...Mas cito abaixo algumas curiosidades até agora e posto algumas fotos.

CURIOSIDADES BEIJING:

- Os taxistas quase todos ouvem novela chinesa no rádio e é muito engraçado, mesmo sem entender o que o locutor está dizendo

- Os taxistas cobram sempre 1 yan a mais do preço da viagem devido ao custo do óleo do carro

- A maioria dos mictórios públicos femininos não tem vaso sanitário e sim mictório “feminino”, ou seja, buraco no chao!

- Os chineses são muito honestos no comércio cotidiano, quer dizer, sempre correm atrás para devolver o troco, não gostam muito de gorjetas, essas coisas. Ah, e os taxistas não ficam dando voltas mesmo sabendo que somos estrangeiros.

- A cidade é extremamente limpa, não se vê lixo no chão mesmoooo!

- Todas (ou quase) as avenidas possuem ciclovias

- Durante o inverno eles tampam um determinado tipo de árvore. Colocam um “capuz” de pano em cada uma delas, o que fica muito engraçado, parecendo múmias nos jardins!!!

- Alguns sites aqui são proibidos, barrados pelo governo. Não dá pra entrar no facebook ou you tube, por exemplo. Ou mesmo no meu blog, que é blogspot!

- Existe suco de mirtilhas!!

- O modo como contam o dinheiro é único.

- Pode parecer óbvio, mas tenho que dizer: os chineses são completamente diferentes uns dos outros, acho até que consigo delinear alguns tipos de grupos de traços bem diferentes.

- Não consegui achar shoyo nos restaurantes ainda, embora deva ter, é claro!"
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 A quem interessar, postei algumas fotos da viagem aqui > http://picasaweb.google.com.br/lemos.julia

6 comentários:

  1. Oi Júlia! Que legal incrível esta sua viagem, continue escrevendo sobre ela que eu quero acompanhar os relatos.

    Duas perguntas. Você trouxe latinhas de chá verde?
    Praticou tai-chi de manhã nas praças?

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  2. Oi Ju! Não tinha lido esse texto ainda... Nossa, muito legal! Tô louca para ler a continuação.

    bjoos

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  3. Ei Júlia, se me permiti. Muito legal a sua iniciativa, a forma como escreve e principalmente essa viagem, está nação. O descompromisso aí que você expressa no texto, acho que é o tom. Porque estamos acostumados com nossa mídia de n's compromissos falar deste país e em muitas ocasiões com o objetivo cada vez maior de distanciá-lo de nós (em termos de harmonia). E outra, o escrever, por vontade. Aqui no bairro entre os maradores a lembrança maior que vem sobre a China, é de um adolescente que saiu daqui para dar aula de Inglês lá, aprendeu o Mandarim e agora o ensina na França. Já ouvi pessoas que concordam com Sissi sobre o humor Chinês e que o povo Vietnamita é mais aberto. Este mundo religiosamente divido, nos limita em muito. O ritmo de mescla cultural ocidente / oriente, está aumentando bastante e considero também de grande importância.
    Que tenha uma ótima jornada no blog.
    André / ABC - SP

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  4. Está vendo como vale a pena escrever no blog? Você já está mais craque do que eu... eu não sei colocar mais de uma foto no mesmo post! ;P

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  5. apaixonante seu texto. viajar assim é bom demais, porque somos capazes de sentir e nos expressar a cada insntante, pensar os prazeres, as descobertas, redescobrir o mundo e si mesma. Acabei viajando com vc lendo seu texto.
    Bjooo!

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