sábado, 29 de junho de 2013

Manifestos de Junho/13: algumas impressões e esperanças

Algumas impressões políticas pareciam bastante claras a mim nos últimos tempos.

PRIMEIRA IMPRESSÃO: a de que mídia há algum tempo faz uma campanha maciça contra a democracia na medida em que não politiza a crítica à corrupção ao mesmo tempo em que faz dessa crítica o centro dos problemas, transformando-a numa questão moral, não distinguindo as causas estruturais tanto da corrupção quanto dos demais problemas. Ou seja, a mídia, “à la CQC”, há muito tempo simplesmente  “arde a política no fogo do pecado”, como diz PHA. Joga tudo no saco da imoralidade pessoal para assim deixar oculta a causa da corrupção (que, acreditem, não está no fato de "uns estarem com Deus e outros com o Diabo"!) e deixarem indistintos os projetos políticos quanto às questões estruturais que prejudicam o país. Quando digo “há muito tempo” considero que desde o caso do Collor isso acontece, mas que nos governos Lula/Dilma se agravou, dado que a direita via mídia e judiciário encontrou no mensalão um modo de detonar o PT, abafando o mensalão do PSDB e sendo constante e  firme em seu projeto de construir a imagem do PT não como corrupto e sim como “governo mais corrupto da história” – um modo eficaz de dizer que as diferenças dos projetos no que tange  às questões sociais são praticamente nulas. (A despeito do Brasil no governo Lula/Dilma ter sido o único país além da China que, de acordo com a ONU, diminuiu a mortabilidade por Fome, leia-se Miséria -  em 40%. Seria uma diferença pouca???).

SEGUNDA IMPRESSÃO: a de que o governo precisava avançar para além dos grandes feitos no que tange a tirar o país da miserabilidade e partir para as reformas estruturais que todos da esquerda sonham há tanto tempo.

TERCEIRA IMPRESSÃO: a de que tal avanço estrutural estava constantemente e irritantemente sendo barrado em nome de um tal PIB para não deixar o país cair numa tal crise do capitalismo internacional que traz justamente desemprego e miséria.

QUARTA IMPRESSÃO: a de que tudo isso teria que ser pincelado por mim lendo artigos aqui e ali, ou seja, de que o governo não tem um canal de comunicação que nos permita entender o que está fazendo e porque está fazendo. 

QUINTA IMPRESSÃO: a de que isso tudo estava irritando bastante não somente a mim, mas a tantos e tantos movimentos sociais, ou seja, o governo também estava pecando na falta de diálogo direto, não mediado.

Nos primeiros dias em que vi o povo nas ruas me felicitei, tal como muitos colegas que pensavam parecido comigo: era o momento da esquerda cobrar da Dilma uma respostas às nossas expectativas para além dos avanços (enormes!!) na redução da miserabilidade. Exigir a redução das tarifas de transporte nos permitia exigir um posicionamento combativo contra o domínio do poder econômico nas tantas e tantas áreas estruturais do país. Era a ponta de lança em nome de uma guinada à esquerda. As primeiras manifestações de fato pareciam indicar isso. As esperanças renasciam.

De repente, entretanto, a coisa ficou obscura. Bastante simbólica foi a mudança de posicionamento de um dos jornalistas mais reacionários do Brasil, Arnaldo Jabor. Da crítica aos manifestantes ele então resolveu tentar pautar o movimento dizendo algo do tipo: achei que vocês fossem idiotas combatendo a máfia do transporte por R$0,20 centavos (ou seja achei que fossem idiotas combatendo o domínio do poder econômico nas questões sociais) Mas, que nada! Percebi que vocês são inteligentes: querem é combater apenas corrupção e ”sabem” que a corrupção é simplesmente o governo – e não a estrutura (ou seja, percebi que se vocês se voltarem só para a bandeira anti-corrupção e anti-governo os conservadores/capitalistas podem ganhar muito com isso!).

De repente, então, aqueles que queriam combater o domínio do poder econômico e exigir da Dilma mudanças estruturais à esquerda se viram ao lado de bandeiras conservadoras. Hein? Foi então que me lembrei de que havia esquecido da PRIMEIRA IMPRESSÃO: da campanha anti-corrupção feita de modo superficial pela mídia e que exaltava o poder Judiciário – aquele que até hoje não julgou o mensalão do PSDB e que tal como qualquer poder político do Estado capitalista é corrupto – como o poder salvador da pátria, sob a figura de um indivíduo moral Joaquim Barbosa.

O susto foi grande. Cogitei sair das ruas. Se for pra retroceder, melhor tomar cuidado. E então comecei a observar melhor. Na  verdade, apesar da mudança do Jabor ter sido também uma mudança da Globo em geral, o movimento não era completamente conservador. Pés no chão: não é só um movimento exigindo uma guinada à esquerda. E mais pés no chão: não é só um movimento conservador da direita. Não é um movimento só de pacíficos e nem só de vândalos. Não é um movimento só de pacíficos anti-vândalos, tem também só de pacíficos pró-vândalos. É um misto. É um movimento que se volta contra os símbolos do capitalismo, é um movimento que tem bandeiras conservadoras, é um movimento que detona a Globo/mídia, é um movimento que quer aparecer na Globo/mídia, é um movimento que quer a guinada à esquerda, é um movimento que quer a guinada à direita, é um movimento de apartidários anarquistas, é um movimento de apartidários fascistas, é um movimento de apartidários que nem sabem o que querem no lugar dos partidos e julgam não terem a responsabilidade de responder a essa pergunta quando combatem os partidos. É um movimento que se mascara como Anonymous que parece mais distante do Anonymous internacional que qualquer desmascarado. É um movimento cara limpa que se recusa fazer aliança com Anonymous. É um movimento de coxinhas. É um movimento de socialistas. É um movimento por mudanças.

Pés no chão é um “balaio de gatos”. Pés no chão: sair das ruas é a pior opção.

No meio desse balaio, começam a sair pautas de reivindicações. E minha impressão é péssima. Com tanta coisa urgente e necessária, as pautas se mantêm no nível da moral superficial e não da estrutura política, não da mudança profunda, nem mesmo quando trata a corrupção. E de repente a coisa começa a virar. A Dilma anuncia, apresenta e faz aprovar os royalties do petróleo para a educação e saúde. É aprovada a lei que torna a corrupção crime hediondo. E, principal, Dilma vai a fundo no que de fato pode mudar a estrutura da  corrupção: é preciso fazer uma Reforma Política!!!

E agora estamos no ponto em que separamos o joio do trigo. Como não poderia deixar de  ser, a Globo faz campanha indireta contra a Reforma Política. Depois de estimular os movimentos sob a bandeira “à la Arnaldo Jabour”, agora a Globo considera que o povo é incapaz de participar do processo: “Fazer Reforma Política é perigoso!!!” Leia-se: acabar com a possibilidade dos acordos econômicos eleitoreiros e mafiosos que permite os firmes tentáculos do capital sobre os políticos é perigoso! Os conservadores gritam na Globo através da voz dos seus cientistas políticos cheios de medo. Daqui a  pouco chamam a Regina Duarte para nos lembrar do perigo!!! 

PHA traz um temor contrário ao dos conservadores e que se assemelha ao meu: e se a Reforma Política for de novo pra gaveta??? Pela falta de comunicação efetiva, pode ser  que muitos caiam nessa conversa da direita-Regina Duarte. E então talvez não consigamos fazer essa Reforma Política. E então talvez ficaremos a vida inteira tendo que ouvir do povo cheio desse medo global continuar gritando contra corrupção por uma eternidade e a Globo cheia de poder falar contra a corrupção numa cara lavada que faz inveja a qualquer máscara do Anonymous. É que, diz PHA, “Desde 1994, a Globo controla 80% de toda a verba da televisão aberta. Nenhuma Democracia do mundo permitiria que a lei que regula a rádio-difusão não se atualizasse desde 1963. Em 1994, ela tinha 80% da audiência. Hoje, tem 45% da audiência. Mas, não faz diferença. Os 80% só os mesmos e o bolo da grana aumentou. E agora ?"

E agora? E agora que sigo com esperanças!!! Porque esse movimento nas ruas, como eu disse, não se resume a abraçar as causas do Jabor, mas também o escorraça. É um balaio de gatos e tudo pode acontecer. Não é que eu tenha ilusões de que a Reforma Política não possa dar errado, ser tomada pela direita no meio do caminho. Mas penso que o importante é, pelo amor de Deus (!), que ela leve de uma vez por todas um solavanco para começar!! E então disputemos democraticamente o seu tom! Se não for agora, não será nunca!

 E espero que o governo não precise que peçamos que se faça imediatamente a democratização da mídia!!

Como sou cheia de esperança, já parto para a campanha pela outra pauta urgente depois que garantirmos a Reforma Política. "Próxima, por favor... Reforma Agrária!”

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vamos voltar às ruas por Reforma Política e Educação!!

Do balaio de reivindicações catalisadas em torno da reivindicação da diminuição da tarifa do transporte, as que eu sempre considero principais são as que buscam atacar as causas ao invés de atacar simplesmente os efeitos. Penso que pra mudar realmente as coisas nesse país, não podemos ficar fazendo leis que se focam nas consequências e sim ir mais a fundo, entendendo as causas. Por exemplo: é importante criar leis punitivas a crimes? Sim. Mas mais importante ainda é alterar a situação concreta que induz o indivíduo ao crime. Se somos contra a corrupção devemos nos perguntar: o que causa a corrupção? Se somos contra o conflito de terras nos quais morrem tantos pequenos agricultores e índios, devemos nos perguntar: o que causam os conflitos de terra? E por aí vai. E devemos buscar as perguntas na estrutura e não simplesmente na falta de leis. Leis temos aos montes. Por que elas não são suficientes? Porque é preciso focar nas causas.

Muito mais importante do que leis permitam a condenação dos corruptos (como a queda da PEC 37 e a lei que torna a corrupção crime hediondo), é a Reforma Política. É esta reforma e não outras leis quaisquer que deve alterar a estrutura que gera a corrupção política desde o financiamento privado de campanhas eleitorais. A Reforma Política é muito mais importante contra a corrupção do que qualquer lei punitiva, porque ataca as causas ao invés de se focar nos efeitos.

Neste sentido, as medidas que a presidenta Dilma anunciou através das reivindicações foram bem melhores que aqueles 5 causas feitas em nome do movimento. Dilma destacou:

- Reforma Política (deve alterar o sistema de corrupção onde ele começa, na semente, na campanha eleitoral)
- 100% dos royalts do Pré-Sal para a Educação (educação é a base de tudo! A falta de qualidade na educação é causa de inúmeros males desse país!)
- Lei de Acesso à Informação (a transparência ao uso do dinheiro público, nos permitindo atuar também inibindo a corrupção na sua base: o ocultamento)
- Democratização dos meios de comunicação (para reverter a histórica máfia de comunicação no país e colocar o povo no poder da mídia!)
- Saúde: trazer mais médicos do exterior (ficou a desejar)

Para mim faltou sobretudo mais um essencial:
- Reforma Agrária (para democratizar o acesso à terra e demarcar urgentemente as terras indígenas)

O mais interessante é como estas medidas vão mais a fundo que as levantadas pelo movimento. Os movimentos se focaram em consequências, a presidenta se voltou para as causas. Ocorre, entretanto, que para o governo ir em frente, o povo precisa continuar nas ruas!!! Não depende da Dilma realizar nenhuma das bandeiras acima, já que precisam da aprovação no congresso. Então, é preciso o povo nas ruas! E penso que as duas primeiras que reivindicações (Reforma Política e Royalties na Educação) deveriam ser as nossas reivindicações mais imediatas! Vamos de volta às ruas!!